Patogênese de infecção por PCV2
O Circovírus porcino tipo 2 (PCV2) tem sua manifestação nas formas subclínica e clínicas, onde na forma clínica temos 5 apresentações: Doença Sistêmica (PVC2-SD) que anteriormente era chamada de PMWS, doença respiratória (PCV2-LD), doença entérica (PCV2-ED), doença reprodutiva (PCV2-RD) e síndrome de dermatite e nefropatia (PDNS).
Na primeira semana pós infecção o vírus começa a se replicar, porém tem uma difícil detecção nos tecidos, mas há viremia e o animal está em estado subclínico/pré-clínico da doença. Da segunda a terceira semana pós infecção a viremia continua e a quantidade de vírus aumenta, possibilitando a detecção do PCV2 nos tecidos linfoides e em outros órgãos. O suíno ainda se mantém em estado subclínico/pré-clínico. Da terceira semana em diante, se houver uma resposta imune eficaz a viremia diminui e a infecção fica sob controle, a quantidade de PCV2 nos tecidos é baixa e as lesões são leves resultando em uma infecção subclínica. Frente a uma resposta imune ineficaz a replicação vírus continua resultando em uma viremia elevada. Como consequência encontramos uma quantidade de vírus entre moderada e alta em tecidos linfoides, com lesões de moderadas a intensas resultando em uma doença sistêmica. Entre a 7ª e a 12ª semana de idade ocorre a soroconversão e podemos ter a duração dos anticorpos até 28 semanas.
Infecção subclínica pelo PCV2 (PCV2-SI)
Possivelmente a doença por PCV2 é a mais importante a nível econômico, pois causa uma redução considerável no crescimento. Uma granja sem sinais clínicos relacionados a uma PCV2D, porém com testes que confirmam uma infecção por PCV2 (PCR ou testes sorológicos), consideramos uma exploração afetada pelo PCV2-SI.
Doença sistêmica por PCV2 (PCV2-SD)
A SD tem causa multifatorial na qual o PCV2 é o principal agente infeccioso envolvido. Porém, as infecções naturais e experimentais por esse vírus na sua maioria causam uma infecção subclínica, embora em alguns casos sintomas muito importantes como perda e morte aparecem. Em muitas infecções naturais na PCV2-SD, há uma dificuldade de estabelecer o fator de risco específico que desencadeou a doença.
Consideramos que um suíno ou um grupo de suínos sofre de doença sistêmica por PCV2 quando temos um comprometimento e atraso no crescimento, frequentemente com dispneia e aumento dos linfonodos inguinais, ocasionalmente icterícia. O diagnóstico da PCV2-SD baseia-se no aparecimento de uma condição caracterizada principalmente por perda e mortalidade acima do esperado e / ou no nível histórico da granja, assim como no diagnóstico individual da doença. A evolução da PCV2-SD para uma forma mais branda e crônica (menor mortalidade e quadro clínico menos evidente) contribuiu com o fato de que, supostamente, é mais difícil diagnosticar a PCV2-SD em granjas suspeitas que tiveram resposta a vacinação contra o PCV2. Também é importante ressaltar que a eficácia da vacina contra o PCV2 reduziu o interesse em diagnosticar a PCV2-SD. Parte dos veterinários de campo prefere usar o sistema de “tentativa e erro” (vacinar e verificar o resultado dessa vacinação) em vez de realizar um diagnóstico laboratorial.
Doença respiratória por PCV2 (PCV2-LD) e doença entérica por PCV2 (PCV2-ED)
Sabemos que a infecção por PCV2 é uma infecção viral sistêmica, podendo localizar o vírus no sistema respiratório e/ou entérico. Embora considerado uma doença diferente da PCV2-SD, acredita-se que o PCV2 exerça seus efeitos nos sistemas respiratório e entérico especialmente dentro da PCV2-SD ou PCV2-SI.
Doença reprodutiva (PCV2-RD)
O PCV2 é um patógeno que tem a capacidade de replicar em fetos e causar danos aos seus órgãos. Associa-se a sua prevalência baixa ou muito baixa à existência de imunidade coletiva.
O diagnóstico da PCV2-RD deve ser baseado em três critérios: 1) Abortos prematuros e leitões natimortos, às vezes com evidente hipertrofia do coração; 2) Presença de lesões cardíacas caracterizadas por extensa miocardite fibrosa e/ou necrosante; 3) Presença de grandes quantidades de PCV2 em lesões do miocárdio e outros tecidos fetais.
Síndrome de dermatite e nefropatia (PDNS)
Conhecida antes da primeira descrição da PMWS e considerada uma reação de hipersensibilidade do tipo II. Em algumas situações evidentes apontaram o PCV2 como o antígeno associado o que nunca foi comprovado. Entretanto, o uso de vacinas contra PCV2 quase eliminou essa síndrome.
A PDNS tem seu diagnóstico baseado em dois critérios principais: Presença de lesões cutâneas hemorrágicas e necróticas localizadas principalmente nas extremidades posteriores e na região perineal, e/ou rins edemaciados e pálidos com petéquias corticais generalizadas; Presença de vasculite sistêmica necrosante e glomerulonefrite necrosante e fibrina. Atualmente, a detecção de PCV2 não é um critério de diagnóstico para PDNS.
Diagnosticamos de forma correta a infecção por PCV2 e suas enfermidades associadas?
O diagnóstico de doenças multifatoriais sempre é difícil de estabelecer quando o agente infeccioso essencial é de ampla distribuição. Isso significa que só a detecção dos microrganismos patogênicos ou dos anticorpos diante de um elemento não é suficiente para diagnosticar os doentes. De fato, a detecção do agente ou revelar a existência de infecções anteriores simplesmente evidencia seu comportamento onipresente. Portanto, para estabelecer um diagnóstico definitivo é importante determinar critérios claros e rígidos.
Isto, justamente, foi a situação desde que o PCV2 foi identificado. O papel incerto desse vírus na síndrome de definhamento multissistêmico pós-desmame (PMWS) inicialmente descrita (PCV2-SD), assim como as dificuldades em reproduzir a doença experimentalmente (Postulado de Koch não foi cumprido na maioria dos estudos), era devido o estabelecimento de critérios diagnósticos ser muito complicado, seguramente mais que qualquer outro patógeno suíno estudado até o momento. Então, foram desenvolvidas várias técnicas de laboratório para auxiliar no diagnóstico das PCVDs ou para monitorar a infecção por PCV2.
Técnicas de laboratório para detectar o PCV2
As principais técnicas para se detectar o PCV2 nos tecidos são: Hibridização In Situ (ISH) – detecta o genoma do vírus; Imunohistoquímica (IHC) – detecta o antígeno do vírus em tecidos fixados. Foi identificado uma correlação acentuada entre a quantidade de PCV2 presente nos tecidos e a gravidade das lesões microscópicas nos tecidos linfoides em PCV2-SD e em PCV2-RD. Reação em Cadeia da Polimerase Quantitativa (qPCR) – Essa técnica combina especificidade e sensibilidade na quantificação do DNA viral. O qPCR é uma técnica confiável para diagnosticar PCV2-SD no nível coletivo da granja, mas para diagnóstico individual não pode substituir por completo a Histopatologia e a detecção de PCV2 nos tecidos. Pode ser coletado amostras de soro, fluidos orais e tecidos para a realização do qPCR. Como esse exame é possível determinar o nível de vírus circulante no rebanho através do número do cópias de DNA por ml de soro, quando é encontrado valor <105 não é esperado impacto a saúde e na performance dos animais, valores de 105-106 indica presença de doença subclínica e >107 significa que temos doença sistêmica.
Técnicas de laboratório para detectar anticorpos contra PCV2
Existem várias técnicas sorológicas utilizadas para detectar anticorpos contra PCV2 no soro e nos fluidos orais. Porém, na prática o diagnóstico da PCV2-SD baseados nessas técnicas não é possível devido a onipresença do PCV2. Além disso, a soroconversão podem ter padrões semelhantes entre suínos afetados e não afetados pela PCV2-SD, ou em granjas com infecções subclínicas. Ultimamente, a dinâmica de anticorpos contra o PCV2 tem sido largamente estudada, devido a importância que tem no monitoramento da vacinação contra o PCV2, na investigação da imunidade das granjas e da possível variação da interferência da imunidade materna concedida pelas vacinas. Técnicas de ELISA são as mais utilizadas para este tipo de monitoramento.
Critérios para diagnóstico de PCVDs
O primeiro passo no diagnóstico é sempre avaliar o quadro clínico. Porém, os sinais clínicos apenas permitem determinar uma linha de diagnóstico diferencial, que deve ser realizado através de exames laboratoriais. Levando em consideração a onipresença do PCV2, deve-se tomar cuidado ao relacioná-lo diretamente como responsável por um quadro clínico específico. Então, ao longo dos anos, critérios foram estabelecidos para evidenciar a confirmação de um diagnóstico.
Em conta partida, globalmente a tendência dos programas de saúde suína consiste na vacinação sistemática de leitões e/ou porcas contra o PCV2 (tanto em granjas com sintomas clínicos quanto com infecções subclínicas). Perante a essas condições, exames laboratoriais antes da vacinação com objetivo de diagnosticar PCV2-SD não faria sentido. Entretanto, a confirmação do diagnóstico por meio de exames laboratoriais pode ser muito importante em outras situações como: Granjas que os animais foram vacinados contra o PCV2 e apresentam sinais clínicos semelhantes aos das PCVDs; Granjas onde não foi realizada uma correta vacinação contra o PCV2.
É preciso estar ciente de que a vacinação para PCV2 “pode não funcionar conforme o esperado”. Aconselha-se a realização de um diagnóstico completo para chegar a essa conclusão, não pensando somente no PCV2, mas também em outros agentes que podem causar atraso no crescimento e mortalidade. Os critérios específicos para o diagnóstico das PCVDs estão resumidos na Tabela 1.
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Diagnóstico diferencial
Quando falamos de diagnóstico diferencial do PCV2-SD todas as doenças que causam deterioração nos suínos devem ser incluídas. Deve ser realizado o diagnóstico diferencial para doenças que causam aumento de linfonodos, edema pulmonar e pneumonia intersticial como Influenza, Salmonella e Micotoxinas.
Quanto a PDNS, o diagnóstico diferencial deve incluir todos os quadros clínicos em que há uma coloração avermelhada ou escura da pele, assim como os quadros que são encontradas petéquias nos rins.
Somente com a observação dos sinais clínicos fica impossível diferenciar a PCV2-SD de outros agentes que causam abortos nas fases posteriores da gestação e onde existem leitões natimortos. A ocorrência de fetos mumificados de diferentes tamanhos no momento do parto deve ser especificamente diferenciada da infecção por PPV ou enterovírus.
*Mauro Rodrigo Souza é gerente de serviços veterinários da Ceva Saúde Animal
**William Costa é gerente técnico de suínos da Ceva Saúde Animal