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quinta-feira, 26 de maio de 2011

Com medo, mãe de extrativista executado diz que vai deixar sua casa

Mãe de José Cláudio teme ser assassinada. Nesta quarta, Polícia Federal entrou no caso

Wilson Lima, enviado a Marabá 

Ora, se meu filho foi assassinado imagina que pode acontecer comigo?”, diz mãe de José Cláudio
A execução do casal de extrativistas Maria do Espírito Santo da Silva e José Cláudio da Silva traumatizou a família, que fala em deixar o assentamento onde viviam juntos. A mãe de José Cláudio, a aposentada Raimunda da Silva dos Santos, de 73 anos, afirma que deixará o acampamento em Nova Ipixuna, cidade a 390 quilômetros de Belém, que o casal ajudou a fundar há aproximadamente 20 anos.
Dona Raimunda afirmou nesta quarta-feira, durante o velório do casal, que há vários meses pessoas batiam em sua porta em horários estranhos, inclusive de madrugada. Ela foi obrigada a colocar um cachorro em sua residência em uma tentativa de intimidar os invasores. “Mas nada funcionou”, disse. “Ora, se meu filho foi assassinado imagina que pode acontecer comigo?”, questiona a aposentada.
Foto: Wilson Lima/iG
No velório, faixa em homenagem ao casal morto no Pará
Ela mora com uma filha e mais três netos no povoado Arupá, próximo á Maçaranduba II, onde o casal de líderes ambientais vivia. Outros membros da família que também moram no Assentamento Agroextrativista Praia Alta Piranheira, que engloba vários povoados, devem deixar o local após o assassinato do casal. O próprio casal vivia ameaças de fazendeiros e de madeireiros da região e relatou o caso às autoridades locais. Porém, nenhuma medida foi tomada.
“Era comum pessoas nos ameaçarem com tiros”, disse a sobrinha do casal, Clara Santos.
O assentamento
O clima no Assentamento Alta Piranheira nesta quarta-feira, segundo informações de familiares, ainda é tenso. Policiais Militares foram deslocados para o Nova Ipixuna para garantir a segurança e proteção das 500 famílias que moram na região.
A morte do casal foi a quarta em conseqüência de conflitos agrários em 2011 apenas na região de Marabá, segundo a Delegacia Especial de combate a Crimes Agrários (Deca). Nos últimos 40 anos, segundo dados da Pastoral da Terra, pelo menos 600 trabalhadores rurais morreram no Pará após disputa com madeireiros e fazendeiros.
Velório
Cerca de 700 pessoas compareceram ao velório do casal, que foi realizado em uma residência no bairro Nova Marabá, na periferia de Marabá - cidade a 440 quilômetros de Belém. Na residência dos familiares do casal há faixas pretas pedindo justiça, o fim da violência no campo e o fim da impunidade.
Nesta quinta-feira, movimentos sociais prometem realizar protestos cobrando das autoridades celeridade nas investigações. “O Estado, sem dúvida, é culpado dessa morte. Afinal, eles denunciaram os conflitos agrários na região e, principalmente, pediram ajuda e nunca foram atendidos. Agora, não adianta mais”, declarou o Atanagildo Matos, coordenador do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS).

O Estado, sem dúvida, é culpado dessa morte. Afinal, eles denunciaram os conflitos agrários na região e, principalmente, pediram ajuda e nunca foram atendidos. Agora, não adianta mais”, diz amigo da família
Alguns curiosos, amigos da família e também vizinhos também demonstraram sua revolta, mas evitaram dar nomes. Muitas pessoas temem retaliações de madeireiros e fazendeiros. “Normalmente, quem bate em madeireiro não fica muito tempo vivo”, justificou um morador que preferiu não se identificar. “Mas esse crime foi revoltante. Ele apenas lutava pela floreta. Apenas isso”, complementou.
Polícia Federal
Nesta quarta-feira, a Polícia Federal entrou no caso e indicou o delegado Marcelo Daemon para ajudar nas investigações da Polícia Civil. A Ouvidoria Agrária Nacional também prestou solidariedade à família e prometeu que a partir de agora haverá a intensificação das investigações. “O que podemos fazer é dar ajuda financeira e determinar a ajuda da Polícia Federal no caso”, disse o desembargador Gercino José Filho, coordenador da Ouvidoria Agrária.
Durante o dia, amigos e pessoas que estavam no assentamento na hora do assassinato dos extrativistas prestaram depoimentos. Segundo o delegado Humberto Ribeiro Júnior, que preside o inquérito,houve avanços para se chegar aos responsáveis pelo assassinato. O inquérito tem 30 dias para ser concluído, podendo ser prorrogado por igual período.
Maria do Espírito Santo e José Cláudio da Silva integravam a lista de aproximadamente 30 pessoas que, segundo a Pastoral da Terra, estavam marcadas para morrer em 2011.
Foto: Wilson Lima/iG
Corpo do casal é velado na casa de familiares, em Marabá
Fonte: IG