O Conselho Federal de Enfermagem
vai apresentar nesta sexta-feira, 6, à Justiça, um pedido para que os
profissionais possam voltar a requisitar consultas e exames na atenção básica e
a revalidar receitas médicas nos serviços públicos de saúde. A atividade foi
proibida na semana passada pelo juiz da 20ª Vara da Justiça Federal de Brasília
em ação promovida pelo Conselho Federal de Medina e já começa a provocar
impacto no atendimento no SUS.
“Essas atividades são
desempenhadas por enfermeiros há 20 anos. Não há dúvida de que a ação tem como
pano de fundo apenas a busca por uma reserva de mercado, em detrimento do
interesse da população”, afirmou o presidente do Cofen, Manoel Neri.
Dentro da própria classe médica,
o assunto é controverso. A Sociedade Brasileira de Medicina de Família e
Comunidade (SBMFC) divulgou uma nota em que se diz preocupada com o risco que
as limitações poderão provocar para a Estratégia da Saúde da Família.
Diante da proibição, o Cofen
recomendou que seus associados interrompam atividades como a solicitação de
exames e renovação de receitas médicas até que a situação seja revertida na
Justiça. “São tarefas essenciais. Em vários programas a atuação do enfermeiro é
crucial”, disse Neri.
Como exemplo, ele citou programa
para a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. “É grande a atribuição,
por exemplo, de enfermeiros no combate à epidemia de sífilis enfrentada no
Brasil atualmente”, afirmou.
No SUS, enfermeiros também têm
uma atuação importante no programa de controle de hipertensão, diabetes e no
acompanhamento de mulheres no pré-natal. “O exame para confirmação da gravidez,
por exemplo, é solicitado pelo enfermeiro”, disse o presidente do Cofen.
Reconsideração
Nessa primeira etapa, o Cofen vai
pedir a reconsideração da decisão da Justiça. Caso a estratégia seja mal
sucedida, o conselho vai recorrer ao Tribunal Regional Federal. De acordo com o
Cofen, a liminar usa como justificativa uma lei que já não está mais em vigor.
Além de representantes de
enfermeiros, a decisão da Justiça preocupa as prefeituras. O presidente do
Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde, Mauro Junqueira, afirmou
ao Estado que deve procurar representantes de médicos e enfermeiros para chegar
a um acordo. “Enfermeiros têm um papel importante na rede pública de saúde. Uma
decisão como essa pode trazer um impacto significativo. Estamos preocupados”,
afirmou Junqueira.
Na nota, a SBMFC observa que em
vários países com sistemas de saúde universal a presença do enfermeiro é
essencial. “Entendemos que o caminho da judicialização das profissões em saúde
não tem sido proveitoso ao longo da história da construção do SUS, e sempre o
maior prejudicado é o usuário”, informou a sociedade.
A ação que limita a atuação dos
enfermeiros foi interposta pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), sob o
argumento de que essas tarefas são atribuições exclusivas do médico. “Permitir
que outro profissional exerça tal atividade é colocar em risco a qualidade do
atendimento, afirmou o presidente do CFM, Carlos Vital. De acordo com ele,
mesmo a renovação de receitas já concedidas deve ser realizada por um médico ou
sob sua supervisão. “O que se viu, na prática, é que enfermeiros vinham
desempenhando a atividade sem qualquer tipo de acompanhamento”, observou.
Fonte: Estado de S. Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário
SEJA BEM VINDO, PARTICIPEM E COMENTE A VONTADE