Foto comprova mão de indio decepada. |
O índio gamela José Ribamar
Mendes, 46, vítima de
ataque de fazendeiros no povoado Bahias, no município de Viana (região da
Baixada Maranhense), relatou que ficou com a mão pendurada pela pele ao ser
agredido por grupo armado com facões e armas de fogo, no último domingo (30).
Inicialmente, havia sido informado que o índio tinha sofrido a amputação das
mãos.
Mendes está internado na
enfermaria do hospital Dr. Tarquino Lopes Silva, em São Luís, se recuperado de
cirurgia para fixação dos tendões e ossos do punho esquerdo e das pernas, que
foram fraturados durante a agressão.
"Partiram para cima da
gente lá. Pedimos paz, mas todo mundo armado para cima. Minha mão ficou só na
pele, foram dois cortes", contou Mendes.
Na manhã desta terça-feira
(2), a comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil),
seccional Maranhão, visitou Mendes, Aldelir de Jesus Ribeiro, 37, e José André
Ribeiro, 45, os outros dois índios que estão no hospital, para colher
depoimento deles sobre o atentado.
A OAB-MA e a Sociedade
Maranhense de Diretos Humanos compararam os ataques sofridos pelos índios aos
ocorridos em animais. O advogado Rafael Silva, da comissão de Direitos Humanos
da OAB-MA, disse que os cortes nos corpos dos índios foram iguais aos que fazem
em porcos que atacam plantações. "Atacaram gamelas como animais. Fizeram
igual como matam porcos que atacam roças, cortando os membros perto das
articulações", comparou.
Já o membro da Sociedade
Maranhense de Direitos Humanos, advogado Luís Antônio Pedrosa, afirmou que os
golpes tinham o objetivo de deixar a vítima sem condições de sobreviver por
conta própria. "Faziam isso com os búfalos nos conflitos da década de
setenta. Cortar os ligamentos dos membros é uma assinatura violenta de quem
quer imobilizar seu opositor."
Mãos não foram decepadas
Segundo o secretário de
Estado da Saúde do Maranhão, Carlos Eduardo de Oliveira Lula, os pacientes
não tiveram membros decepados. "Quanto aos três que permanecem internados,
nenhum teve a mão decepada. Conforme boletins médicos, em face da agressão
sofrida, dois dos gamelas tiveram fraturas expostas", disse.
Cimi (Conselho Indigenista Missionário) |
O médico cirurgião
ortopédico Newton Gripp Lopes, diretor técnico do hospital Dr. Tarquínio Lopes
Filho, explicou que as lesões ocorridas nos índios foram graves, com cortes
profundos, mas os membros não foram arrancados do corpo.
"Os dois tiveram lesão
grave profunda cortante ocasionada por arma branca, mas não teve decepação.
Foram vários cortes profundos que atingiram áreas importantes, chegou até o
osso, mas não arrancou partes do corpo. Talvez, eles tenham sequelas na
movimentação das mãos, mas só o tempo vai dizer, muito tempo. Eles se
submeterão ainda a muitas cirurgias reparadoras", disse o médico.
O advogado Rafael Silva
afirma que houve uma tentativa de esquartejamento conforme relatos dos
indígenas colhidos na manhã desta terça-feira pela comissão de Direitos Humanos
da OAB-Maranhão. "Para ocorrer uma amputação, ocorre uma fratura. Os dois
índios contaram que os membros agredidos ficaram segurados pela pele. Agora,
ninguém está entendendo o porquê do Estado tentar minimizar a gravidade do
Estado de saúde dos índios. A gravidade é tamanha que ainda não se sabe qual
vai ser a sequela que eles terão", disse Rafael Silva, em referência à
nota emitida pelo Estado do Maranhão em que nega a decepação.
"Parece que vai
continuar por um bom tempo o auspicioso e pertinente debate que envolve os
conceitos médicos de fratura exposta e decepamento. Se, de fato, se tratar de
fratura exposta, vencerá o Governo do Estado, que entende que tentar matar é
menos do que tentar lesionar e assim poderão cessar as críticas contra seu
Sistema de Segurança Pública", afirmou Antônio Luís Pedrosa, destacando
que o "falso debate" é apenas uma forma de escamotear o padrão de
violência fundiária crônico existente no Maranhão. "Se for o caso de decepamento,
cairá o governo Flávio Dino em danação, sendo obrigado a assumir as atribuições
do Governo Federal na resolução do conflito indígena.
PF está na região de
conflito.
Em nota oficial, o
Ministério da Justiça e Segurança Pública informa que duas equipes da Polícia
Federal já chegaram à região de Viana para apoiar as investigações realizadas
pelas polícias Civil e Militar do Estado.
"O ministério também
reitera que a Funai está em contato direto com as autoridades policiais do
Estado do Maranhão e acompanha in loco o inquérito policial instaurado para o
caso. Também foi criado um comitê de crise composto pela presidência,
procuradores e diretores da fundação para prestar toda a ajuda necessária aos
feridos e garantir o cumprimento da lei", diz a pasta.
(Colaborou Carlos Madeiro,
em Maceió)
Fonte:noticias.uol.com.br
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