Bacharel em administração de empresas e técnico em processamento de dados, Paulo Cesar Breim é conhecido como PCB no ramo da informática, onde há mais de 30 anos está envolvido. Criador do ‘Home Banking’, foi sócio e diretor de grandes empresas como a Eversystems, SVLabs e Sangari Brasil. No automobilismo, Paulo foi o responsável pelos motores de kart Biland no Brasil além de ter participado e organizado cinco campeonatos mundiais de kart 4 tempos. Atualmente, é presidente da LINEA (Liga de Incentivo ao Esporte). Viabilizou investimentos para elite de pilotos brasileiros oriundos do kart.
Veja um pouco do legado feito por PCB...
Em agosto de 1993, os sócios Marco Aurélio Garib e Paulo César Breim, donos da Eversystems, fabricante de softwares de automação bancária, preparavam-se para a primeira reunião com um cliente estrangeiro. O interlocutor seria o venezuelano Juan Carlos Escotet, dono do banco Banesco. O encontro estava marcado para as 7 horas da manhã, no hotel Maksoud Plaza, em São Paulo. Escotet ficara encantado com uma tecnologia criada pela dupla e adotada pelo Unibanco: o envio de informações aos clientes por um sistema de pagers. (Lembre-se de que o ano era 1993, um tempo não tão distante em que telefones celulares tinham tamanho de tijolos e a internet era coisa restrita a poucos milhares de "malucos"). O banqueiro ouvia a exposição empolgado. Garib recheava o discurso com vários "entonces" e "mira", num portunhol improvisado.
Terminados os bits e bytes, Escotet perguntou quanto custaria implementar o sistema em seu banco. Baixinho, os brasileiros conversam até chegar a um número. "São 280 mil dólares", disse Garib. Imediatamente, o banqueiro estendeu o braço direito para cumprimentar seus novos fornecedores, deixando entrever o Rolex de ouro que carregava no pulso. Nesse momento, Garib percebeu que poderia ter pedido muito mais. "Ele nem titubeou", afirma. "Fiquei com vontade de emendar rapidamente que aquele seria apenas o valor inicial, mas já era tarde", diz, em tom de brincadeira.
O Banesco, hoje com 400 agências, continua cliente da Eversystems. Bancões como Citibank, Unibanco, Lloyds TSB, BankBoston, Bank of America, Deutsche Bank e Santander são outros que engrossam a lista. Quase 10% das quase 600 instituições financeiras que operam na América Latina são atendidas pela empresa. Em geral são clientes fiéis. Por quê? "O segredo do Garib é ser parceiro, e não mero fornecedor", diz Márcio Castro, diretor de internet do Citibank, que firmou seu primeiro contrato com a Eversystems em 1995. "Muitas empresas de tecnologia simplesmente apresentam um produto e dali para a frente deixam o cliente se virar sozinho. A Eversystems não."
Criada em 1991, dois anos antes do encontro com Escotet, a empresa se transformou numa multinacional brasileira, com escritórios nos Estados Unidos, na Venezuela e na Argentina. No ano passado, faturou 28,3 milhões de dólares. A Eversystems foi a primeira a desenvolver sistemas para envio de informações bancárias por pager, e-mail e celular. Entre seus admiradores mais notáveis está o ex-presidente mundial do Citibank John Reed, que apontou Garib como um dos maiores especialistas do mundo. E já virou um pequeno clássico a história de que, por trás da propaganda do Unibanco estrelada por Bill Gates em 1995, quem desenvolvia a tecnologia de home banking do banco dos Moreira Salles era a Eversystems.
O sucesso obtido em apenas uma década acaba de ser reconhecido com toda a pompa. No fim de outubro, Garib recebeu o prêmio Empreendedor do Ano, concedido pela consultoria Ernst & Young, com apoio de EXAME. "Ele conseguiu emplacar num setor muito dependente de tecnologia e que tem crivos muito severos", afirma Luiz Passetti, sócio da Ernst & Young e um dos responsáveis pelo prêmio.
Aos 39 anos de idade, Garib é um homem de fala pausada. Como bom engenheiro, gosta de rabiscar gráficos e tabelas para complementar suas explicações. Até 1998, costumava sentar -se na frente de um computador para criar programas. Hoje, dedica-se exclusivamente à função executiva. Apesar de ambicioso, ele não salta no escuro. Recua, se preciso. Um exemplo? O adiamento do tão sonhado IPO.
Voltemos a 1999. A Eversystems vivia uma ótima fase. Criara o e-mail banking, lançado pelo Citibank com exclusividade mundial, que em pouco tempo se tornou uma espécie de febre. Garib queria expandir os horizontes de sua empresa. Pesquisas encomendadas a consultorias indicavam que ele precisaria de 40 milhões de dólares para financiar a expansão. Paralelamente, as empresas de tecnologia nos Estados Unidos viviam seu momento mais reluzente. Por que, então, não fazer um IPO, a badalada oferta inicial de ações?
Garib foi a Nova York para se encontrar com Fernando Espuelas, fundador da StarMedia, a primeira empresa latino-americana da área de internet a abrir seu capital nos Estados Unidos. Queria algumas dicas. A partir daí deu início a um processo que levou alguns meses e consumiu quase 1 milhão de dólares para preparar a Eversystems para o IPO.
O efeito colateral dessa preparação foi o desgaste do relacionamento entre Garib e Breim, seu sócio. "Ele é quase dez anos mais velho que eu e já estava numa fase de querer um trabalho que exigisse menos dedicação", diz o diplomático Garib. Segundo o administrador Breim, porém, havia outro ponto de discordância. Enquanto Garib defendia o IPO, ele ficava com o pé atrás. "Eu achava que a valorização das empresas de internet era absurda. Como a StarMedia poderia valer quase o mesmo que a HP?" Breim vendeu seus 50% para Garib em meados de 1999. Segundo ele, embolsou 10 milhões de dólares. Hoje, divide seu tempo entre rallies e o comando da SVLabs, empresa de tecnologia que faz validação e verificação de sistemas. Meses depois, ainda correndo atrás do IPO, Garib conseguiu um novo sócio. Por 30 milhões de dólares, a holding de Julio Bozano levou 49% da Eversystems.
Paralelamente, a Nasdaq começava a perder seu encanto. Era hora de reavaliar os planos. Em dezembro de 2000, Garib e o sócio decidiram que, por ora, o almejado IPO seria engavetado. O executivo não fala em frustração. Ao contrário, diz que a empresa cresceu ao se preparar para o lançamento de ações. "Hoje seguimos regras contábeis internacionais, nossa gestão é mais moderna e a estrutura organizacional da holding está redonda", diz Garib.
A Eversystems mudou por dentro e por fora. No fim do ano passado, deixou a sede num prédio acanhado, no bairro do Morumbi, em São Paulo, para se instalar num condomínio recém-inaugurado na mesma região. Ocupa três andares -- espaços amplos, com paredes envidraçadas -- e tem vizinhos ilustres como Aventis e América Online. Mas que ninguém espere encontrar na nova sede uma reprodução do comportamento descontraído das empresas de tecnologia do Vale do Silício, nos Estados Unidos. Na verdade, o jeitão não poderia ser mais "velha economia". Muito desse tom formal é ditado pelo próprio Garib, um sujeito que trabalha sempre de terno e gosta de combinar abotoaduras com o prendedor de gravata. Ali não há espaço para mesas de pebolim. Tampouco é comum cruzar pelos corredores com funcionários com piercings ou tatuagens à mostra. Divididos em baias, eles trabalham praticamente em silêncio. "Nossos clientes são mais austeros e o produto que vendemos representa segurança", diz Garib. "Temos de ter protocolo."
Casado, pai de três filhas, Garib há poucos meses mudou-se para um apartamento que fica a cinco minutos do trabalho. Com isso consegue almoçar em casa alguns dias por semana e curtir a companhia da família. Um pouco por vaidade, um pouco por precaução, no ano passado ele decidiu encarar ginástica e dieta. À custa de exercícios diários matinais e de uma alimentação mais saudável, fez o peso baixar de 84 para 76 quilos. "Não tenho nem um pneuzinho", diz, com indisfarçável orgulho.
A boa forma e a saúde em ordem vão ajudá-lo a enfrentar um momento delicado. A crise econômica que se acentuou depois do atentado de 11 de setembro já causou estragos na Eversystems. A revisão na expectativa de faturamento foi o primeiro deles. Em janeiro, a estimativa era de que a receita de 2001 alcançaria 35 milhões de dólares. Hoje, Garib não acredita que o faturamento supere o registrado em 2001 (28,3 milhões). O quadro de funcionários também foi enxugado. Na manhã em que concedeu a entrevista a EXAME, Garib tinha 352 empregados. Horas depois, 46 deles foram demitidos. "Era um corte planejado desde junho", disse ele, à noite.
Garib não parece se abater com a fase turbulenta. Diz que o modelo de negócios que mais admira no setor de tecnologia é o seu mesmo. E que em cinco anos pretende faturar algo em torno de 250 milhões de dólares. Para isso, conta com uma equipe alinhada com os objetivos da empresa. "A cultura é muito homogênea", diz Maria Helena Santana, superintendente de empresas da Bovespa e uma das sete juradas do prêmio Empreendedor do Ano.
Em tempo: lembra-se do aperto na reunião com os venezuelanos por causa do espanhol improvisado? Essa barreira foi vencida. Depois de tantas viagens pela América Latina, Garib aprendeu a falar o idioma corretamente.
Colaborou Cristiane Mano
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