domingo, 5 de setembro de 2010

A CANDIDATA QUE VIROU PÓ: PODERIA VIRAR PO NOVAMENTE SE NAO TIVESSE APOIO DE UM PRESIDENTE DA REPUBLICA SIMPATIZANTE DE DITADORES.

ROSEANA SARNEY - PFL / MA Ex-governadora do Maranhão, filha de um ex-governador maranhense e ex-presidente da República que domina a política local há quatro décadas e dispõe da mais poderosa máquina de comunicação do Estado, que se estende aos campos da televisão, do rádio e do jornal.
JORGE MURAD Marido de Roseana, atua nos bastidores do poder desde que o sogro foi presidente da República. Foi nomeado pela mulher, uma espécie de supersecretário de Estado, com o domínio da quase totalidade das verbas públicas. Murad se meteu em muitos negócios, seus amigos e parentes eram prestadores de serviços ao governo e as autoridades suspeitam que ele possa ter se envolvido com as fraudes da Sudam. O casal sempre se comportou com tranqüilidade olímpica em relação ao que pensariam disso os maranhenses, bombardeados com a cobertura favorável ao governo por parte dos órgãos de comunicação da família. Numa batida autorizada pela Justiça, foi encontrado 1,34 milhão de reais no cofre da Lunus, empresa de Jorge Murad em associação com a esposa, Roseana, além de vários documentos comprometedores. O casal arranjou sete versões para explicar a origem do dinheiro, e cada uma se despedaçou horas depois da divulgação. Durante mais de um mês apresentaram suas explicações como se bastasse ter um documento qualquer assinado por alguém para justificar qualquer coisa. Primeiro, o dinheiro era da própria empresa Lunus. Depois, pertenceria a outra companhia e estava apenas guardado no cofre da Lunus. Em seguida, seria reserva financeira para comprar madeira de construção. E, mais adiante, já se transformaria em resultado da venda de chalés numa praia de turismo. Como nenhuma versão mereceu crédito, saiu a oitava: A dinheirama, conforme a explicação dos advogados de Jorge Murad e Roseana Sarney, teria sido doada à campanha presidencial da candidata. Detalhe: todos os doadores eram parentes da família ou pessoas ligadas ao pai de Roseana, por laços políticos. Essa ninguém engoliu. Até mesmo setores do PFL receberam o documento com desconfiança. A tentativa de convencer o país com uma história tão frágil funcionou contra seus arquitetos.
Agora, sem que nada se tenha esclarecido, Murad voltou ao poder, no posto de secretário de Estado. Ele tem novamente foro privilegiado e, no caso de um eventual processo, poderá responder ao Tribunal Regional Federal, com sede em Brasília, e não à Justiça Federal do Tocantins. Na sexta-feira, Murad foi nomeado secretário de Ciência e Tecnologia pelo governador José Reinaldo Careiro Tavares, que assumiu o cargo depois que Roseana renunciou para concorrer à presidência da República. A estratégia é mais uma tentativa dos advogados do casal de retirar da Justiça do Tocantins as investigações sobre o dinheiro apreendido na Lunus.Tanto Murad quanto Roseana são citados no processo que investiga desvio de recursos da Sudam. Como os dois estão envolvidos na mesma investigação, o inquérito, que deveria voltar a correr em Palmas, pode ser transferido para o TRF. Seu retorno ao governo teve um objetivo escancarado: recuperar o direito de ser processado por tribunal superior, regalia dada a ocupantes de cargos como o seu. Uma investigação revelou que a participação de Murad no caso Usimar, a megafraude que previa a liberação de 1,38 bilhão de reais em recursos públicos para montar uma indústria de autopeças no Maranhão, foi mais intensa do que se sabia até agora. A Polícia Federal apreendeu na Lunus um fax enviado a Murad por um funcionário da Sudam, avisando de que um auditor da Receita Federal estava prestes a ganhar um assento no conselho da Sudam no Maranhão, e ressalta que isso não era bom sinal. O tal auditor já trabalhara no Amazonas, onde sua atuação honesta chegou a atrapalhar a execução de certos trambiques, obstáculo só removido com a intervenção do governador do Estado, Amazonino Mendes. Roseana e Murad informaram que o dinheiro é resultado da doação espontânea de nove pessoas físicas. Na hora de identificar os doadores, descobriu-se que a lista era caseira. Fernando Sarney, o irmão de Roseana responsável pela administração dos negócios da família, aparece contribuindo com 150.000 reais. Dois tios de Murad deram 100.000 reais cada um. Um irmão de Murad que hoje mora nos Estados Unidos, também compareceu com 100.000 reais. O próprio Jorge Murad, sem o conhecimento de sua mulher, doou 200.000 reais. João Claudino, dono de um conglomerado de dezesseis empresas, inclusive da construtora Sucesso, uma das mais ativas nas obras públicas do Maranhão, é o campeão da lista, com 300.000 reais. A história é um espanto por seus furos óbvios. Por que todos os doadores acharam que o cofre da Lunus, uma empresa instalada num prédio onde a vigilância é amadora, era mais seguro que o cofre de um banco? Por que Murad, em vez de ir sacando o dinheiro conforme as necessidades de campanha, preferiu pegar a bolada de 200.000 reais em dinheiro vivo e metê-la num cofre? Por que o PFL não doou nada? Afinal, neste ano o partido tem 17 milhões de reais do fundo partidário.
Fonte: Site da Revista Veja - www.veja.com.br - 08/04/2002 e 17/04/2002

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